Artigos Namoros violentos

— Esse artigo foi escrito para o jornal Diário de Santa Maria, em Fevereiro de 2019.
Uma feliz véspera de retorno para os 25 mil alunos da UFSM amanheceu manchada de sangue e marcada pela perda trágica de uma de suas estudantes. Fiquei chocado – sim, nós psicólogos também sentimos o incômodo por tais tragédias – talvez mais ainda quando elas apresentam-se vestidas da paixão, senão do amor dos jovens.
Ler sobre o assassinato e posterior suicídio fez debruçar-me sobre uma mentira que se arrasta em nosso sistema social, mentira essa que trás a crença de que “amar é sofrer”, endossada pela ideia errônea de que maus-tratos podem fazem parte de relações amorosas.
Em algum momento já ouvimos a infeliz sentença: se o/a “fulaninho/a” te bate, é porque ele/a te ama (frase essa dita por muitos adultos as suas crianças). No decorrer do desenvolvimento essa crença pode se tornar uma escara difícil de ser curada, e assim vemos a violência invadir as relações amorosas, tanto hétero quanto homoafetivas, forjando dados alarmantes no Brasil, os quais mostram que muitos jovens já foram vítimas ou já praticaram algum tipo de agressão, seja física, emocional ou sexual. Nessa retroalimentação da agressividade muitos são vítimas e perpetradores ao mesmo tempo.
Não é parte da natureza humana agredir quem se ama. Isso é algo aprendido, reforçado por práticas sociais que preconizam a agressão como forma de resolver conflitos. O que se vê é uma escalada da violência, que começa em um xingamento, uma privação, um empurrão, podendo chegar ao desfecho trágico de um assassinato ou suicídio. Além das consequências imediatas, a violência nas relações podem deixar marcar como transtornos humor e de ansiedade, uso e abuso de substâncias, baixa produtividade acadêmica ou no trabalho, entre tantos outras cicatrizes emocionais ou físicas. Uma grande infelicidade é ver que a agressividade que começa em um namoro pode seguir adiante para dentro do casamento, sendo nocivo também para os filhos, e o grande ciclo violento tende a ser aprendido e repetido pela nova geração.
Sair de uma relação abusiva não é o primeiro desejo dos jovens, pelo contrário, eles desejam que a violência acabe, mas não o namoro. Em grande parte essas tentativas de melhorar a relação não funcionam, o diálogo não tem efeito, e o problema continua, podendo tornar-se mais grave ao longo do tempo.
Por todos esses motivos a violência nas relações deve ser prevenida, o quanto antes se possível. Sabendo que a tomada dessa decisão pode ser difícil, vale buscar apoio seja com amigos, familiares, profissionais de saúde e áreas jurídicas.