Artigos Perspectiva relacional-sistêmica: a terapia dos relacionamentos

Perspectiva relacional-sistêmica: a terapia dos relacionamentos

Esse texto foi produzido com base nos escritos de Solange Maria Rosset, terapeuta de casais.

A perspectiva relacional-sistêmica é uma proposta terapêutica que entende o cliente (seja um indivíduo, uma família, um casal) como um Sistema que mantém relacionamento. O foco da perspectiva relacional-sistêmica é o processo de autonomia, que engloba o pertencimento/separação, o desenvolvimento da consciência, das escolhas e da responsabilidade; a mudança de diretrizes disfuncionais, adquirindo um número maior e mais rico de estratégias operacionais.

Algumas considerações importantes que podemos extrair dessa abordagem:

Escolhas: somos responsáveis pelas nossas escolhas: comportamentos, sentimentos, pensamentos, reações… mas muitas vezes não temos consciência disso. O trabalho de melhoria é enxergar os fatos, descobrir como você se posicionou para que isso aconteça e assumir a responsabilidade por essas escolhas. Ao aceitar a responsabilidade, removemos o peso da culpa, o sentimento de vítima desaparece. Você adquire poder e permanece no controle.

Desenvolvimento da consciência: a tarefa é tomar consciência do próprio funcionamento e de suas dificuldades, para então desenvolver um plano de mudanças e, assim, experimentar novos comportamentos, atitudes e sentimentos. Tornar-se consciente não é fácil, rápido ou indolor. Mas é o primeiro passo para um processo de desenvolvimento, seja individualmente ou em relacionamentos.

Do “porquê” ao “para que” e ao “como”: na compreensão linear cartesiana, o foco ou preocupação principal na avaliação das situações é descobrir o porquê das reações e dos fatos. Isso se deve à crença de que há uma simplicidade na compreensão dos fatos, que se definirmos qual é a causa, temos controle sobre as respostas e efeitos. Pensando sistemicamente, não existe uma causa única que desencadeia um evento, mas múltiplas causas. A avaliação é muito complexa e exige um olhar abrangente de todos os ângulos e situações sem preconceitos. A intenção de abordar sistemicamente é ver “o que” e “como” algo “está acontecendo”. Embora às vezes também olhemos para o passado, é no presente que trabalhamos para entender os padrões relacionais que estão ocorrendo.

Do entendimento à mudança: no pensamento linear, o desejo é encontrar explicações e entendimentos. Na proposta sistêmica, o foco é ver o que está acontecendo, onde, com quem, como. E assim, buscar novas alternativas para alcançar a mudança. Desta forma, mais importante que os conteúdos e histórias serão os padrões de interação e funcionamento das pessoas envolvidas, e a avaliação sempre ligada ao momento e ao contexto.

Das vítimas e bandidos ao jogo complementar: na mesma linha, não há vítimas nem bandidos. Acreditar que eles existem é uma forma simplista de olhar a situação que torna a realidade muito delimitada, os papéis se cristalizam e há muito pouco a fazer além de condenar ou punir. No entanto, visto que as formas de relacionamento são circulares, são co-desencadeadores; que o comportamento de um desencadeia e mantém o comportamento do outro e vice-versa, tudo se torna mais complexo. Dependendo de onde a atenção é colocada, os gatilhos das sequências comportamentais podem mudar completamente. E dessa forma todos são parceiros na situação, totalmente responsáveis pelo que acontece.

Sem acertos e erros pré-definidos: Ao ver a vida de forma sistêmica, uma das primeiras coisas que você abre mão é a segurança de acreditar que existe uma separação e clareza entre o certo e o errado. O certo só é certo, a verdade é só a verdade, se fixarmos um olhar e não mudarmos o ângulo, o contexto, a configuração. Acreditar que você sabe o que é certo simplifica a vida, enrijece e empobrece os relacionamentos. O certo muda e perde importância dependendo do ângulo pelo qual você olha a situação. Tornar esse conceito mais flexível permite que você lide de forma mais criativa e rica com a vida e os relacionamentos.

Circularidade: A noção de causa e efeito leva ao pensamento linear e vertical, define carrascos e vítimas e leva a uma perda de mobilidade e flexibilidade nas relações. Ao olhar a relação como um sistema, um círculo, cada um tem sua participação e responsabilidade, cada um influencia o outro. Acontece que existe uma teia interconectada e não uma linha reta em uma direção. Pensar e viver a vida de forma circular torna tudo mais complexo, mais rico e mais flexível.

Padrão de funcionamento: padrão de funcionamento é a forma repetitiva que um sistema estabelece para agir e reagir à vida e às situações relacionais. Na maioria das vezes, é inconsciente e automático. Abrange o que é dito e o que não é dito, a forma como as coisas são ditas e feitas, bem como todas as nuances do comportamento. O padrão de funcionamento aparece em todos os aspectos da pessoa ou sistema. Pode ser visto no corpo, no pensamento, no sentimento, na ação e principalmente nos relacionamentos. Esse padrão se estrutura quando a criança ingressa no sistema familiar, a partir do modo como a família opera seu padrão básico. Nas relações familiares, o padrão do indivíduo é definido desde o momento em que nasce. Ele está sob a influência dos pensamentos, emoções e comportamentos de seus pais e familiares, independentemente de estarem ou não cientes do que pensam, sentem ou fazem. Essa influência coze através do que é dito, do que não é dito, do que é evitado, do que é escondido; a forma como as pessoas se relacionam. Não se pode dizer que um padrão de funcionamento seja bom ou ruim, melhor ou pior. O que faz a diferença é o quanto se tem consciência do próprio padrão de funcionamento, pois é a partir dele que se pode ter controle e fazer escolhas.

Responsabilidade: O processo de ser responsável significa estar ciente de seu desejo, ter escolhas, fazer sua escolha e aceitar as consequências e resultados dela. Entrar em contato com seu funcionamento é tomar consciência de como ele reage; e tornam-se responsáveis pelos comportamentos que escolhem ter, são as reações que têm aos comportamentos dos outros e até as relações que os outros têm aos seus comportamentos. A responsabilidade mais difícil é olhar para dentro de si mesmo, descobrir seus sentimentos, seus medos, suas defesas, seus álibis. Com humildade, mas sem julgamentos críticos ou culpados, pode-se atingir um nível de autoconsciência que abre novos caminhos para o crescimento e desenvolvimento. Isso é responsabilidade.

Recaída: entender que em todo processo há recaídas, dá mais tranquilidade e coragem para se conectar com os desafios inerentes à tarefa de aprender, mudar e controlar comportamentos compulsivos. Essa compreensão das recaídas é uma forma simples e concreta; utilizado para inserir a noção de recaídas durante o processo e a proposta de desenvolver a capacidade de gerenciar seus próprios controles de recaídas. Eles: inevitáveis, desejáveis, gerenciáveis, evitáveis ​​(possíveis de serem descobertos antecipadamente e atrasados). Inevitável ou ser parte do movimento da vida. Desejável, pois será por meio deles que o andamento e o processo serão avaliados. Você conhece o que já está consolidado e o que merece mais cuidado, mais treinamento e mais esforço. Gerenciável porque é possível tratá-los de forma funcional. As formas de gerenciar as recaídas são: conhecendo essa teorização; ao se perceber em recaída, olhando para frente, vendo o caminho que tem que fazer, o processo, a evolução; evite olhar para frente e para trás para evitar pensamentos de regressão ou incapacidade. São preveníveis ​​porque, após tomar conhecimento de comportamentos e padrões e treinamento para gerenciar recaídas, percebem-se os sinais anteriores à sua ocorrência. À medida que esses sinais são identificados, coisas e situações podem ser alteradas para evitar ou retardar a recaída.